Quando eu escrevia algum texto, eu falava muito sobre a minha infância feliz. Falava da família, brincadeiras, diversão, colegas da escola e lugares onde vivi intensamente.
No entanto, aprendi com a experiência que mesmo voltando naquele lugar do passado aonde fui muito feliz encontrei pouco do que deixei. A casa que passei toda a infância não é mais a mesma, os lugares por onde andei, o rio onde nadei, tudo isso ficou apenas na memória e na saudade que ora se apresenta feliz e por vezes nostálgicas.
Agora, meu foco mudou. Filhos que se tornaram adultos, saíram de casa em busca de seus sonhos e objetivos. E quando vêm visitar-me trazem consigo uma nova família, seus filhos, meus netos. É a perpetuação da espécie. Meus netos são o reflexo de meus filhos quando meninos e permitem-me sonhar com a volta do tempo.
Aos cinquenta anos, imaginei estar chegando ao topo da vida e que a partir daquela data começaria a descida na trajetória existencial. Simplesmente o tempo fluiu e sem que eu percebesse a flor renasceu, pois, cultivada pela fé e o amor de Deus. Cheguei exuberante à minha melhor idade, trazendo comigo um novo olhar, o qual fez brotar a coragem, que trouxe também a força, a perseverança, a alegria despertando a criança que sempre presente no meu coração. Apreciar essa fase é uma dádiva. É agradecer a Deus por tê-la me concedido.
Nesse momento me vejo reencontrando com a infância. Às vezes me pego correndo atrás de borboletas na praça. Como não dá para subir no galho da árvore me contento em abraçá-la e ser fotografada por alguém que passa por ali na hora.
Passei décadas buscando realizar sonhos, cobiças, paixões, que me levaram a passar grande parte do tempo ansiosa, tensa. Hoje, aposentada, mais serena, encontrei novo grupo de amigas da ginástica, das rezas do terço, do chá da tarde, das viagens da melhor idade. Reencontramos a nossa infância, nos comportamos como crianças, soltamos boas gargalhadas, quando relembramos das travessuras da nossa meninice. Voltamos para casa felizes, com a alma flutuando porque resgatamos não apenas a infância, mas também a nossa inocência, nossa pureza no pensar, no sentir e no proceder.
Descobri nesse enlace entre a minha consciência e o meu coração, uma vida de relação própria que carrega dentro do peito uma menina de setenta anos, de pensamentos capazes de permitir que a Luz Divina opere verdadeiros prodígios no interior da minha alma.