Esta entrevista tenta clonar o cara que tem as seguintes iniciais — MAL — ideias avançadas do saudoso jornalista, escritor e dramaturgo Nelson Rodrigues ao apelar para o termo imaginário. Para o inspirador, essa ideia é a melhor possível, que acompanha a verdade. Imaginariamente, todo mundo fala a verdade. Nunca o ser humano diz o que pensa se postado diante de um microfone oficial, mas numa entrevista imaginária ele consegue atingir esse objetivo. O povo preza pela sinceridade.
Diferentemente do escritor nordestino, este autor – ZdB — não é vigiado por uma cabra vadia, mas por duas figuras inseparáveis: o Bom Cabrito e Zé do Burro ou Burro do Zé. Quem faz as perguntas é o ZdB.
O local do bate-papo foi escolhido unanimemente: o Coliseu Itabirano, novo palco local do Pão & Circo. O horário de início é exatamente meia-noite, quando as assombrações estão soltas, como garante o inesquecível, incomparável e imortal Machado de Assis. Eis a conversa:
“Adoro puxa-sacos”
ZdB — Por que os sapos se afastam quando chega um repórter perto do senhor?
LeãO — Sempre mando sapos saírem de meu convívio para não perturbar os contatos que tenho com a Princesa, paralelamente à minha conversa. Ela é minha orientadora oficial.
ZdB — Mas o senhor não gosta de puxa-sacos?
LeãO — Adoro os puxa-sacos, mas só para encontros rápidos e alternado ou em festas. Gosto de imitar o Daniel Grisolia, ser sempre carregado em triunfo. Não os tolero com a presença de outros capangas ou companheiro ou repórteres. Quem não gosta de ouvir que a barba está bonita, a inteligência afiada e que sou o melhor prefeito que Itabira já teve?
ZdB — O senhor acredita nas declarações dos baba-ovos?
LeãO — Tranquilamente os admiro e, portanto, creio neles.
ZdB — Quem manda no senhor?
LeãO — Ninguém. Apenas recebo orientações em casa, na maioria das vezes debaixo do cobertor quando está fazendo frio e de um virol, quando o calor aperta. Mas, aviso a você, peço o favor de falarmos pouco de assuntos particulares.
ZdB — Um assunto que vai ficar para depois ou ser ignorado é este: questão pessoal. Mas foi o senhor que o focalizou. Só sei que a cidade inteira e os distritos sabem em quem o senhor confia. Vamos ao que interessa: você ama Itabira?
LeãO — Pergunta inteligente, parabéns! Não só amo Itabira como mais de 76% de Itabira me adoram. Preciso dizer mais alguma coisa?
“76% declararam que sou bom gestor”
ZdB — Não precisa, mas quero saber se o senhor se considera um bom gestor?
LeãO — É claro que não só me reconheço como também o povo reconhece. Pelo menos 76% me declararam bom gestor. E bom festeiro.
ZdB — O senhor vai continuar reformando e criando praças, promovendo festas, consertando telhados?
LeãO — Sim, o meu fraco são as festas, já cansei de dizer e repetir isso. Jamais abandonarei as festanças. Pequenas obrinhas também terão a minha iniciativa e participação. Um marqueteiro já disse que sou o “prefeitinho das obrinhas”. Vou honrá-lo.
ZdB — Qual é a sua maior obra até agora?
LeãO — O tapamento de buracos e a reforma da Praça Dr. Acrísio de Alvarenga. Não são as melhores de meu governo apenas, mas de todos os governos de todos os tempos.
ZdB — O senhor acredita em Deus?
LeãO — Acredito e não acredito.
ZdB — Como assim?
“Pelo menos ainda não sou comunista. Tem problema?”
LeãO — Sou um herege declarado, mas banco o religioso fervoroso.
ZdB — O senhor é comunista?
LeãO — Por enquanto, não sou comunista. Agora, neste momento, sou socialista. O comunismo vem depois, agora não.
ZdB — O senhor confessa que trabalhou durante os quatro anos apenas para a sua candidatura à reeleição?
LeãO — Diga-me o que faria se você estivesse no meu lugar?
ZdB — Eu seria mais discreto e menos escancarado. Ser prefeito é coisa boa? O poder faz bem ao coração?
LeãO — Sim. É o melhor medicamento para a saúde. Não me falta nada, comemos o que queremos, viajamos às custas do povo por nada; hospedamo-nos em hotéis de luxo; mandamos, todos obedecem. Temos muita água.
ZdB — Por que o senhor não investiu um centavo em desenvolvimento econômico?
LeãO — Ora, já afirmei que sou socialista, não cem por cento democrata e queremos que haja igualdade entre todos. A nossa meta é tirar mais da classe média para colocar na classe sofrida.
ZdB — Por que não tira da classe rica?
LeãO — Tiramos, sim, da classe superior, a esnobe, que não quer contribuir. Quem quer ajudar, vem se instalar com os ricaços, ganhará fortuna quem acreditar em nós. Mas queremos ter uma ilha, como Fidel Castro conseguiu e deixou para a família dele.
“Esse pessoal que temos aí irá todo embora”
ZdB — Por causa disso abandonou a Unifei?
LeãO — Já disse que a Unifei é assunto federal. Onde já se viu o município ajudar o governo federal? Reafirmo que da prefeitura não sai um centavo para esse fim.
ZdB — E as casas populares? O senhor prometeu construí-las mas ainda não cumpriu a promessa. Neste segundo mandato atenderá o primeiro?
LeãO — Não farei isso. Até 2041 Itabira continuará se empobrecendo. Esse pessoal que temos aí irá todo embora. As casas que sobrarem, as ocuparemos com o tempo e não haverá em Itabira mais déficit imobiliário.
ZdB — O primeiro presidente da Vale criou o fundo de exaustão para socorrer os municípios da região ao longo do tempo. Com a privatização da Vale, foi extinta a ajuda aos municípios. O senhor prometeu reativar o benefício. Por que não cumpriu, ainda, essa promessa?
LeãO — Porque já temos, por enquanto, muito dinheiro. Olhe em volta e verá que o povo está nadando no dinheiro. Não vamos ajudar gente rica.
ZdB — Seu governo desistiu de construir o presídio?
LeãO — Isto está claro. Itabira não tem bandido. Não vamos desperdiçar dinheiro.
“Serei presidente da República”
ZdB — O senhor será candidato a deputado daqui a dois anos?
LeãO — Acertou em cheio com essa pergunta. Serei, sim, candidato a deputado federal. Preciso arrumar um estadual. Talvez seja o Gabriel Quintão. Mas não serei apenas deputado federal. Serei candidato ao Senado, depois serei candidato a presidente da República e devo disparar e vencer quem quer que apareça. Para mim nem o céu é limite. Itabira merece um grande presidente.
ZdB — O senhor prefere ser Leão ou ser o MAL?
LeãO — Eu sou o bem. Sou manso como o Leão de Barão de Cocais, que mora quase no centro da cidade e não come ninguém.
Zé do Burro e Vice-Versa com Bom Cabrito vigiando
Foto: Arquivo Notícia Seca