0

Vou dar mais palpite na vida pública porque, afinal, sou cidadão, ainda gozo do direito de expressão e do dever de respeitar quem quer que seja. E começo assim: chegou à Câmara Municipal projeto de lei que autoriza o prefeito a remanejar até 25% do orçamento. Resumo da história:  o prefeito não precisa ficar mandando projetos e mais projetos para isso, aquilo, desapropriar terrenos, comprar carrinhos de mão, fazer planilhas. Mais claramente dizendo: o Poder Legislativo passa a ser engolido como sapo de pernas abertas pelo Poder Executivo.

 

UM PALETÓ XADREZ

 

Era um ano qualquer do mandato 1977 a 1982. Dr. Jairo Magalhães, um dos mais democratas prefeitos que Itabira teve, não contando a liberdade exagerada de Virgílio Gazire, Luiz Menezes e José Maurício Silva. Mas quem dirigia o Executivo era meu amigo dileto Milton Dias Santos, vice-prefeito,  a quem apoiei numa das eleições passadas.

 

Miltão enviou à Câmara um projeto de lei orçamentária, pedindo exatamente isto: autorização para deitar e rolar em cima de 25%. Fui o primeiro a dizer “não” porque achava um absurdo tirar das mãos do vereador o direito de opinar, participar e ser responsável pelos gastos municipais. Na primeira votação fui voto vencido, deu empate de 7 a 7, o presidente — não me lembro qual — deu seu voto de minerva e perdemos.

 

 

 

SAPOS DE PERNAS ABERTAS

O litígio, no entanto, continuou. Tinha deixado meu paletó axadrezado dependurado na cadeira para representar-me, considerando que voto de vereador de nada valia. Retiraram o projeto de pauta, ou pediram vistoria e o caso virou novela das sete (as reuniões eram às 19 horas).  Vesti meu paletó e voltei à guerra para, finalmente, abaixarmos para 5%, ficou tudo certo. Aguentamos também uma manchete de oito colunas na primeira página de “O Passarela” assim exibida: “Prefeito de Itabira está preso”.

 

Deu em nada, Dr. Jairo continuou como deputado estadual, cargo para o qual tinha sido eleito; Virgílio se elegeu prefeito, faleceu infelizmente no exercício do mandato; José Maurício, vice-prefeito oficializado chefe, fez um bom governo, com obras marcantes, convidou-me para ser secretário de Desenvolvimento Econômico, agradeci e reinaugurei, como cidadão, minha vida independente, só amando a terra que escolhi para viver, sem ambição e sem vaidades.

 

Os tais 25% nunca mais voltaram à pauta, eram combatidos até pelo então vereador Roberto Chaves, gente boa demais, que hoje deve estar defendendo os 0%, como secretário de Governo, devido à sua experiência valorosa. Aprendeu a engolir anfíbios de pernas abertas e hoje, com certeza, está em situação ainda mais fácil de tolerar o enxerido vivo na barriga, coaxando sem parar.

 

A vida continua. Vamos ver o que dá a esta altura do campeonato municipal, torcendo vivamente para que tudo ocorra bem e termine bem, sacramentando o fim dos egoístas e famintos ou sedentos do poder eterno, os ditos faraós modernos.

 

José Sana

Em 06/11/2024

NS
José Sana, jornalista, historiador, graduado em Letras, nasceu em São Sebastião do Rio Preto, reside em Itabira desde 1966.

    BULLYING NO GALINHEIRO, SAI FORA!

    Matéria Anterior

    CDL Itabira: Show de Natal 2024 vai sortear mais de cem mil reais em prêmios

    Matéria Seguinte
    0 0 votes
    Article Rating
    Subscribe
    Notify of
    guest
    0 Comentários
    Oldest
    Newest Most Voted
    Inline Feedbacks
    View all comments

    Você também pode gostar

    Mais em Colunas