Quando o português chegou
Debaixo duma bruta chuva
Vestiu o índio
Que pena!
Fosse uma manhã de sol
O índio tinha despido
O português.
Oswald de Andrade, “Erro de português”
A história do Brasil é jovem de cinco séculos, isto seguindo a narrativa originária que desembarca os portugueses na América. Na travessia dos séculos, várias foram as narrativas de lutas, violências e busca de igualdade de direitos para a construção inacabada de cidadania. Paremos por aqui, e lutemos, uma vez mais pela vida, e contra quem, convenhamos, é bom de briga.
O vírus que mata, sem piedade e silencioso, como se disséssemos que o som do silêncio, às vezes, pode ser ensurdecedor, e aqui nos matando isolados sem permitir o último toque do adeus.
Claro, faltaram políticas públicas ágeis para concorrerem com o vírus matador. Assistimos a primeira, a segunda, a terceira, até que estas se tornaram multiplicáveis 3.368 mortes por complicações da COVID-19 nas últimas 24 horas. O vírus chegou até os nossos, matando parentes, amigos, vidas de todas elas importantes.
No país que já se discutiu vestir os índios e despir o português, discutiu-se no agora recente, em meio à guerra viral sobre vacinas, poder e política, tudo junto, buscando agilizar o processo morte. Parece que nas terras de Cabral, “…rapaz que estava fugindo da calmaria, encontrou a confusão, isto é, encontrou o Brasil.” Stanislaw Ponte Preta.
Sem rodeios! Vamos jogar limpo.
Não dá para fugirmos de um problema seríssimo quanto este que enfrentamos. A Covid-19 está provando dia após dia, em horas contadas, que, sozinhos, afortunados ou não, estamos ferrados. Deixemos, então, de apertar as mãos que podem, no momento, selar o toque da morte. Que coisa! Mas não passa de uma verdade, em sendo verdade, não pode deixar de ser real.
Em Morro do Pilar, cidade onde a Seriema canta por sobre as terras de minério, integro à Comissão de Enfrentamento à Covid-19, instituída há um ano, desde quando o vírus gritou pouco antes das nossas montanhas. Vejo de perto a dificuldade que é buscar mecanismos de enfrentamento ao vírus. Ainda que a vida seja a pauta, a mudança de hábitos e costumes gera conflitos e desafios. Nenhuma regra que limita a liberdade é bem recepcionada.
Talvez aqui as palavras tristeza e sofrimento seriam próprias, mas não. Costumo dizer que esta é uma guerra de todos nós, e qualquer falha de ação pode sangrar a vida.
Aprendemos tão rapidamente que não podemos manter contato físico, sem aglomerações, sem festas e sem abraços está sendo pior do que desvendar mistérios e, se pensarmos, essa dependência do outro significa que o ser humano é frágil ao ponto de preferir a morte ao isolamento do momento.
Assustador? Talvez seja.
Nossa missão é conseguirmos vencer o vírus e nossas fraquezas.
Sairemos maiores do que quando entramos, mas precisamos lutar e entender que para tudo o que pode haver depois, a vida precede.
Triste realidade!😒😒😒