0

               

A semana pós festas religiosas em São Sebastião do Rio Preto, cidade situada a 60 quilômetros de Itabira, começou quente e está terminando ainda mais  fervando. No primeiro dia útil, 9 de setembro, o povo acordou com máquinas destruindo a Praça São Sebastião, situada ao lado da Igreja Matriz. O são-sebastianense de olho arregalado era sinal de  susto o com o que estava acontecendo. A  denúncia inicial foi feita pelo jornal “Folha Popular”, de Itabira. O órgão, que circula na região, continuou acompanhando o que vários moradores locais denominaram “tragédia”.

 

“VÃO DERRUBAR A IGREJA?

As máquinas — tratores e pás carregadeiras — azucrinavam a imaginação da gente perdida. O medo era que estava sendo demolida a igreja, “pelo menos a estrutura do templo católico podia ser abalada e estava ameaçada”, disse um morador local. Imediatamente, a notícia se espalhou e o prefeito Sebastião Quintão de Almeida  era questionado. Tranquilo no seu jeito de ser, “Bastião”, como é chamado, só coçava a cabeça e dizia que a ação seria para construir uma rampa para deficientes físicos. Deixou muita gente a perguntar: “Mas uma rampazinha é para destruir todo o patrimônio?”

Na região, os comentários agitavam, alguns comentaristas deixavam observasões hilárias nas redes sociais. Aos poucos os mais exaltados apareceram. A feroz, como sempre, era a advogada, ex-vereadora, Leone Valério de Souza, que enviou declarações contrárias ao que se fazia. Ela sugeriu que fosse feito, pelo menos, um plebiscito para ver se seria essa  a vontade do povo. Chegavam  manifestações dos filhos da cidade, vindos de Itabira, Belo Horizonte e até Brasília. Um dos manifestantes assim se expressou: “A moda agora é reformar praças para lavar …”. (omitido o fim da mensagem para evitar más interpretações).

 

A HISTÓRIA DO TEMPLO

 

Recentemente, especialistas fizeram levantamentos sobre a importância histórica de vários monumentos e bens imateriais de São Sebastião do Rio Preto. Foram levantados, por exemplo, algumas fazendas, a Capela do Cemitério, a Pharmácia São José, o Grupo de Marujos do Cauís,  a Banda do Godó, o Vinho do Godó e a Geleia de Macotó de Dona Raimunda. Ao tentar um levantamento na Igreja Matiz, o pároco local impediu que fosse feito tal providência necessária ao tombamento, com medo de de, naturalmente por ignorância ou preguiça proceder a uma pesquisa séria. Logo o padre, hein?

 

Em 1963, o pároco da época destuiu a Igrejinha do Rosário, grande monumento que continha  pinturas de famosos artistas e um relógio que era presente de Cônego Manuel Madureira. Aliás, foi o pároco citado que construiu a Igreja Matriz de São Sebastião nos fins do século XIX, salvo enganos. Em 1923, a sede da Paróquia passou a ser o atual templo. Somente o Padre Argel Dias de Azevedo preferia utilizar a Igrejinha do Rosário para missas e outros eventos religiosos. Ela foi derrubada pelo Padre Raul de Melo com o intuito de construir a Capela Bom Jesus na Vila de igual nome.

 

A Igreja Matriz sofreu, também depredações incríveis: levaram-lhe, para não se sabe aonde, os belos lustres de cristal que a ornamentavam, além de uma patena de ouro que valia mais que um bolada de notas de mil reais circulantes na época (1972). Disseram que foi para a Holanda.

“AGORA É COM O BASTIÃO”

 

O vilão agora é o prefeito Sebastião Quintão de Almeida, que está no fim de seu mandato de oito anos. “Bastião já foi até meio bonzinho”, disse um eleitor local, “porque construiu um pequeno templo, tipo miniatura, onde era o templo do Rosarinho, de estilo bem saudoso e colonial”, completou.

 

Os protestos choveram no lugar das chuvas que não caem faz meses e renderam uma reunião muito esquentada no espaço da Câmara Municipal. Não tantos manifestantes puderam comparecer, mas reclamavam, como uma componente do Conselho de Cultura, que lamentou o fato. Mais tarde, foi descoberto que, como ocorre nos países ditatoriais e ditos socialistas, o prefeito Bastião não comunicou sequer aos vereadores de suas intenções.

 

Ele, o chefe do executivo, movido por uma força estranha, abriu a reunião noturna de ontem (11 de setembro) afirmando que “me esqueci de enviar o projeto aos vereadores”. Trágico e hilário, para não dizer caipira a justificativa do novo Josep Stálin São-Sebastianense.

 

Após a reunião de ontem ficou determinado o seguinte, segundo a advogada Leone Valério de Souza: “O Ministério Público Estadual será acionado para que se resolva a danificação temerosa que se fez”. Há, ainda, irresponsabilidade no ato, bastando que se faça uma pergunta: e se a estrutura da Igreja Matriz fora atingida? Neste caso, o prefeito estaria nas portas de se cometer um crime “que abala o céu”, afirmou uma senhora presente no encontro de 11 de setembro. “Que dia trágico desde Bin Laden, hein?” — um comentário visto no WhatsApp. Lembrou bem o terrorismo do histórico 11 de setembro.

Outro, bem ao estilo dos menos burros: “A ideia de construir pracinhas é coisa manjada, vem de partidos radicais de esquerda”, afirmou S.A.

 

“A obra está embargada pelos vereadores”, repetiu Dra. Leone Valério”. Mas será que é uma decisão judicial? Só pelos caminhos do Poder Judiciário se imprime uma decisão válida.  E assim os tratores param de roncar. E será que São Sebastião vai interferir? E que interfira, além de evitar o abalroamento da estrutura do templo, os Mosaicos de Vanessa Lage, eleitos como Maravilha de São Sebastião do Rio Preto recentemente.

 

Se for, quem vai fazer mais um pedido será eu: por que não tratam a água consumida pelo povo, o lixo produzido por mais de um mil habitantes  e o esgoto que polui o lendário Rio Preto desde tempos imemoriais do padre Quinzinho?

 

Aguardem os próximos capítulos.

 

José Sana

Fotos: NS e Folha Popular/Itabira

NS
José Sana, jornalista, historiador, graduado em Letras, nasceu em São Sebastião do Rio Preto, reside em Itabira desde 1966.

    QUILOMBOLA EM ITABIRA É DESTAQUE

    Matéria Anterior

    E AGORA, BASTIÃO?

    Matéria Seguinte
    1 1 vote
    Article Rating
    Subscribe
    Notify of
    guest
    0 Comentários
    Oldest
    Newest Most Voted
    Inline Feedbacks
    View all comments

    Você também pode gostar

    Mais em Geral